A China e os Estados Unidos inverteram os “papéis de vilania” na guerra comercial, escalando o embate para um novo patamar mesmo após o recuo da ofensiva de Donald Trump.
Pequim anunciou nesta terça-feira (14) sanções contra cinco subsidiárias americanas da sul-coreana Hanwha Ocean, medida que além de ampliar o embate comercial, gerou uma nova onda de aversão ao risco nos mercados globais.
As bolsas da Ásia e da Europa registraram quedas em bloco, enquanto os índices futuros de Nova York abriram em queda significativa. O movimento reflete a preocupação dos investidores com o impacto das novas medidas sobre as cadeias globais de comércio e logística.
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O Ministério do Comércio da China afirmou que as empresas sancionadas “apoiaram atividades investigativas do governo dos EUA que ameaçam a soberania e os interesses de desenvolvimento da China”.
As medidas atingem as subsidiárias Hanwha Shipping LLC, Hanwha Philly Shipyard Inc., Hanwha Ocean USA International LLC, Hanwha Shipping Holdings LLC e HS USA Holdings Corp.
As ações da Hanwha Ocean chegaram a cair 8% na Bolsa de Seul, enquanto os papéis de construtoras navais chinesas subiram, beneficiadas pela expectativa de ganho de mercado com as restrições.
Retaliações em série elevam tensão global entre EUA e China
As sanções recém anunciadas por Pequim se somam à escalada de retaliações entre as duas maiores economias do mundo.
Nas últimas semanas, a China ampliou controles sobre as exportações de terras raras e minerais críticos, enquanto os EUA reforçaram barreiras tecnológicas e anunciaram tarifas adicionais de 100% sobre produtos chineses a partir de 1º de novembro.
As terras raras são elementos essenciais na produção de semicondutores, motores elétricos e equipamentos de defesa. A China domina 70% da produção global e 90% do refino desses materiais.
Em entrevista ao Financial Times, o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, declarou: “Este é um sinal de como a economia deles está fraca, e eles querem derrubar todo mundo junto.”
Segundo ele, Pequim tenta “exportar sua recessão” ao restringir o fornecimento de insumos industriais essenciais.
De acordo com informações de Bloomberg e Financial Times, Washington estuda exigir licenças de exportação para softwares críticos vendidos à China, o que pode afetar amplamente o setor de tecnologia.
Disputa se intensifica antes do encontro de Trump e Xi
A crescente tensão ocorre às vésperas do encontro entre Donald Trump e Xi Jinping, previsto para o fim de outubro, durante a reunião da APEC (Cooperação Econômica Ásia-Pacífico), na Coreia do Sul.
Segundo o J.P. Morgan, o aumento da volatilidade pode gerar vendas automáticas de até US$ 30 bilhões em ações nos próximos dias, à medida que fundos com metas de risco ajustam suas carteiras.
Analistas apontam que os investidores têm buscado proteção em empresas ocidentais ligadas à cadeia de minerais críticos, como mineradoras e fabricantes de tecnologia avançada.
China e EUA anunciam novas tarifas sobre o setor naval
Além das sanções corporativas, China e EUA anunciaram sobretaxas portuárias mútuas, intensificando a chamada “guerra naval” entre as potências.
A partir desta terça-feira, navios chineses passaram a pagar taxas elevadas para atracar em portos americanos, medida que, segundo Washington, busca reativar os estaleiros navais dos EUA, hoje responsáveis por apenas 0,1% da construção naval mundial.
Na prática, embarcações fabricadas na China ou operadas por empresas chinesas pagarão tarifas específicas. Armadores ocidentais também serão afetados, já que grande parte da frota comercial global é construída em estaleiros chineses.
Em retaliação, Pequim anunciou tarifas sobre navios e armadores americanos, com início também nesta terça-feira.
As taxas atingem embarcações de propriedade, operadas ou construídas nos EUA, ou que naveguem sob bandeira americana. De acordo com a emissora estatal CCTV, há isenção para navios construídos na China.
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China se mantém firme ante ameaças de Trump
O porta-voz do Ministério do Comércio chinês declarou que as medidas são uma defesa legítima: “Se quiserem lutar, lutaremos até o fim. Se quiserem negociar, nossas portas continuam abertas.”
Ele também afirmou que o controle das exportações de terras raras é uma “ação legítima para aprimorar o sistema regulatório interno” e proteger a segurança nacional.
“Como grande potência responsável, a China tem protegido de forma constante e decidida sua própria segurança nacional e a segurança coletiva internacional”, completou.
Críticas do Tesouro americano
O secretário do Tesouro, Scott Bessent, acusou a China de tentar prejudicar a economia global ao impor amplos controles de exportação sobre terras raras.
Ele afirmou ao Financial Times que “talvez exista algum modelo de negócios leninista em que prejudicar seus clientes seja uma boa ideia, mas eles são os maiores fornecedores do mundo. Se quiserem desacelerar a economia global, serão os mais prejudicados.”
Bessent acrescentou: “Eles estão no meio de uma recessão/depressão e tentam sair dela por meio das exportações. O problema é que estão piorando sua imagem no mundo.”
Bastidores diplomáticos da tensão entre EUA e China
Fontes próximas às negociações informaram que os EUA já elaboraram contramedidas a serem adotadas caso não haja acordo. O tema será prioridade na reunião dos ministros do G7, em Washington, durante os encontros do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI).
As autoridades americanas teriam ficado surpresas com a “medida desproporcional” da China, implementada três semanas antes da cúpula da APEC. Algumas fontes afirmam que Li Chenggang, principal negociador chinês do vice-primeiro-ministro He Lifeng, havia ameaçado Washington com ações semelhantes.
De acordo com um funcionário americano, Pequim estaria usando a inclusão de milhares de subsidiárias chinesas na lista de restrições comerciais dos EUA como “pretexto” para adotar medidas que já estavam planejadas. “Eles não poderiam montar algo tão elaborado em apenas duas semanas”, afirmou.
Trump decidiu criticar publicamente a China após Pequim se recusar a participar de novas conversas.
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Próximos passos nas negociações
Após encontros recentes em Washington, Bessent descreveu as conversas como “substanciais” e disse esperar nova reunião com He Lifeng antes do encontro de líderes na APEC.
Segundo autoridades americanas, Pequim mudou de postura e passou a desejar que a reunião entre Bessent e He ocorra antes do encontro entre Trump e Xi Jinping, em 29 de outubro.
O governo dos EUA afirma estar mais confiante em sua posição, citando a queda de 25% no déficit comercial com a China neste ano e o maior alinhamento com democracias ocidentais e asiáticas.